sábado, 9 de novembro de 2013

ENTREVISTA: Éverton Ribeiro, planejamento de craque

Futebol - FIFA, 08/11/13
 
Artigo publicado no site FIFA.com, sobre o jogador destaque do Brasileirão 2013, vale a pena conferir.

Éverton Ribeiro aos 24 anos é destaque no futebol brasileiroe deveria estar
 na seleção - Divulgação 

Os finais de ano sempre foram um período de planejamento para Éverton Ribeiro. Desde jovem, ele aproveitava o encerramento da temporada para fazer uma análise do que havia conseguido, traçava metas para os meses seguintes e não parava de trabalhar. Foi assim que, ainda muito cedo, ele trocou de times, de estados, de posições, deixando o meio de campo para ser lateral e voltando às origens quando sentiu que já estava pronto para ser um verdadeiro armador.
 
O processo não foi simples, nem rápido. Tanto que o nome de Éverton Ribeiro só passou a ser aclamado Brasil afora em 2013, quando mais uma vez precisou planejar uma nova função no Cruzeiro, desta vez como cérebro e principal líder de um time que desequilibraria o Campeonato Brasileiro. O último dos desafios foi também o mais bem sucedido e, hoje, aos 24 anos, ele se diz satisfeito e recompensado por todo o esforço das temporadas anteriores.
 
Na longa entrevista com o FIFA.com, Éverton Ribeiro relembra estes processos, fala sobre a afirmação em 2013, a ótima campanha do Cruzeiro e revela a ansiedade em se tornar campeão brasileiro. Ele também conta um pouco sobre a relação especial com o técnico Marcelo Oliveira e revela seu maior sonho a partir de agora: chegar à Seleção Brasileira. Confira o papo:
 
FIFA.com: Com 24 anos, você vive um momento de afirmação na carreira, mas o grande público não te conhecia muito bem até então. Por que acha que esse reconhecimento foi relativamente tardio?
Éverton Ribeiro: Minha carreira sempre foi planejada, desde a saída do Corinthians e o empréstimo ao São Caetano. Essa mudança de meia para lateral e depois para meia de novo também foi planejada. Cada ano ia evoluindo. Agora, no Cruzeiro, vim com o intuito de me afirmar no cenário nacional e mundial também, sabendo que era um time forte e grande, que podia disputar títulos. Foi isso que me trouxe aqui. Estou feliz com o trabalho que estamos fazendo, por ser reconhecido e por saber que todo esse planejamento vem dando certo.
 
Passar pela lateral, como você fez no Corinthians e na Seleção Sub-20, era algo planejado então?
Sim. Em 2009, quando fui campeão sul-americano com a Seleção, era chamado como lateral. Mas depois, quando sentei com meu empresário, decidimos que eu tinha que voltar para o meio, que era onde eu gostava mais de jogar e tinha mais capacidade. A partir daí eu fui amadurecendo, joguei dois campeonatos completos da Série B, sempre como titular, e voltei para o Corinthians. Mas as portas para outro time grande se abriram. Então foi tudo parte de uma sequência, de uma evolução planejada.
 
Ao chegar no Coritiba já não havia mais dúvidas em relação à tua posição. Aliás, o quanto o Marcelo Oliveira foi importante nessa sua história lá no Sul e agora no Cruzeiro?
Foi isso mesmo. O Coritiba me trouxe assim, porque já tinha aparecido bem no São Caetano como meio-campo de ligação. O Marcelo é um treinador que deu toda tranquilidade para que eu desenvolvesse meu futebol, tanto lá como aqui no Cruzeiro. No Coritiba, ele falou o que queria de mim, disse que já tinha me visto jogar e que confiava em mim. Por isso me deu tranquilidade para buscar espaço. E até hoje tem dado certo. Ele me ajuda muito, até porque foi um meia habilidoso também. Então sempre procuro escutar seus conselhos.
 
No fim das contas, mesmo tendo sido algo planejado, como você diz, acha que essas mudanças de posição atrapalharam um pouco seu desenvolvimento no futebol?
Pode ter atrapalhado, sim. Mas todo jogador tem seu tempo. Eu era mais franzino e fui ganhando massa para poder aguentar o futebol em alto nível. Acho que hoje estou no meu melhor momento de força e no geral também, e isso influi muito. Mas como disse, sempre foi algo que busquei passo a passo. Cada ano sentava e analisava como tinha sido, estabelecia metas e pensava em como poderia melhorar. Isso chegou meio tarde, mas creio que foi no momento certo.
 
No início do Cruzeiro você dividia as funções no meio com o Diego Souza. Depois que ele saiu, você assumiu uma posição mais central e virou o motor do time. Acha que a saída dele influenciou na tua forma de jogar no Cruzeiro e, consequentemente, te ajudou a chegar nesta boa forma de 2013?
Com o Diego eu jogava um pouco mais aberto e a gente revezava, mas eu sempre ficava um pouco menos centralizado. Onde eu gosto e me sinto melhor é mesmo pela meia, armando as jogadas. E acho que isso melhorou quando eu assumi a armação junto com o Ricardo (Goulart), me deu mais entusiasmo, fiquei mais solto e pude liderar a equipe criando e fazendo gols. No geral, posso dizer que foi bom com ele (Diego Souza), mas que também está dando muito certo com o Ricardo.
 
Houve algum momento chave para essa sua mudança, alguma conversa em que definiram essa sua nova função e te falaram: agora a responsabilidade é sua?
Quando eu falo que tudo foi planejado é que é verdade mesmo. Na parada da Copa das Confederações eu recebi uma proposta muito boa do Catar. Chegamos a conversar com o Cruzeiro, mas decidimos ficar e esperar. Ali, sentei com meu empresário de novo e decidimos que eu precisava melhorar a cada dia, para poder liderar e ajudar a equipe a chegar ao título. Acho que, a partir dali, comecei a subir ainda mais o nível do meu futebol.
 
Falando em posições, o Marcelo Oliveira te chama de meia clássico. Outros dizem que você seria mais um meia-atacante ou um meia moderno. Como você se define afinal?
Como um meia moderno, que ajuda tanto na marcação como na armação. Meu primeiro objetivo é dar o passe para os atacantes fazerem os gols, mas também consigo chegar na frente e fazer gols, que é importante. Hoje em dia você vê todos os treinadores de ponta cobrando seus meias para que eles façam gols, e é algo que estou conseguindo cumprir.
 
E o curioso é que você joga como um autêntico camisa 10, mas usa a 17. Isso é uma representação de que você chegou aí de forma modesta antes de viver o grande ano da sua carreira?
Foi isso mesmo. Quando cheguei aqui, também já havia jogadores de nome, que mereciam usar a 10. Então fiquei com a 17, que já tinha usado no Coritiba. Tem dado certo. O importante é estar jogando um bom futebol, sendo visto. Quem sabe mais tarde eu não possa voltar a vestir a 10.

Com a 17 ou a 10, o que importa é que o ano é muito bom. Tanto que virou quase regra falar de você como craque do campeonato. Como vê isso?

É algo muito valioso ter esse reconhecimento logo no primeiro ano em que você chega ao clube, que já disputa um título tão importante. É gostoso, mas não muda nada para mim. Vou seguir trabalhando a cada dia para melhorar, mantendo os pés no chão, ao mesmo tempo em que sei que venho fazendo um bom trabalho e que estou sendo reconhecido. Tudo isso é muito gratificante.
 
Por todo esse reconhecimento tardio, falar do Éverton Ribeiro como craque é algo que te surpreende? Ou você imaginava que, mais cedo ou mais tarde, as pessoas iriam usar esse termo?
Sempre procurei trabalhar para isso, para ter reconhecimento, e sabia que vinha crescendo a cada ano. Já tinha vivido um ano muito bom antes, mas agora, quando você disputa um título como o do Brasileiro, que é um dos mais difíceis do mundo, acaba ficando em evidência. Então é um momento mais propício para ser respeitado, ser chamado de craque ou um dos melhores do campeonato. Mas como digo, preciso seguir fazendo o meu trabalho.
 
E depois de um ano excelente como esse, o que você projeta daqui para frente? O coração fica a mil a cada convocação da Seleção Brasileira?
Claro. A gente tem sempre esse objetivo de chegar à Seleção, é o ápice para um jogador. Espero que seja lembrado, mas preciso continuar bem no Cruzeiro, conquistar este título, porque é algo que ficaria marcado para sempre. Aí depois vamos ver se consigo cumprir esse objetivo. Quem sabe não teremos uma surpresa boa pela frente?
 
Com todo esse reconhecimento, como anda teu dia a dia em Belo Horizonte, o assédio? Você ainda consegue ir num shopping, passear tranquilamente ou não?
Esse assédio acaba sendo natural, até pela nossa boa fase. Com o time bem e podendo ser campeão, os fãs procuram ainda mais. É algo bem legal, que nos deixa feliz. Quando cheguei, era um pouco conhecido, até pelo bom ano no Coritiba. Mas claro que agora aumentou a procura e sempre tento atender a todos com muito carinho. Passear tranquilamente nem sempre é possível, mas ainda consigo sair de casa para jantar. O assédio acontece mais nos jogos e após os treinos, e os torcedores pedem para gente ganhar, fazer gols, conquistar o título e por aí vai... Em campo a gente tenta retribuir.
 
Sobre o Cruzeiro, foi um ano espetacular também, um ano em que o time transformou um campeonato que tinha tudo para ser nivelado em uma disputa única pelo título. Como a equipe conseguiu quebrar essa escrita de que o Brasileirão é um torneio equilibrado?
Desde o começo a equipe se mostrou muito forte, foi montada com excelente jogadores, alguns experientes, que já foram campeões, e também com meninos que estão aparecendo agora. O planejamento foi bem feito e o trabalho do Marcelo agrega demais, deixa a gente unido. Está dando certo, e em campo acabou fazendo toda a diferença.
 
Houve algum momento desta campanha em que vocês sentiram que dava para se desgarrar desse bloco que tinha concorrentes como Grêmio e Botafogo e que esse título seria do Cruzeiro?
A gente nunca planejou estar tão na frente, sempre pensou jogo a jogo, e é algo que precisamos sempre fazer. Mas aquela sequência de oito vitórias foi muito boa e acho que fez a diferença nessa reta final.

E agora vocês têm oficialmente a primeira chance de ser campeões. Deve ter sido uma semana atípica, com muita ansiedade, torcedores esgotando ingressos. Entre os jogadores, é possível passar tanto tempo mentalizando que o próximo jogo é um "jogo qualquer" ou não tem jeito, vocês pensam e falam mesmo sobre levantar essa taça já no domingo?

A gente sabe que não depende só de nós para conquistar a taça no domingo, mas também que agora é um objetivo possível. Vamos primeiro fazer a nossa parte e, depois, torcer para que o Atlético-PR não vença. Se não for possível após a nossa vitória, estaremos ainda mais próximos do título. O Marcelo sempre fala para a gente manter o mesmo futebol. É mais um jogo importante do Brasileiro, mas que pode garantir o que estamos na luta desde o início da competição.

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