RE, 30/12/2014
| Ivo Wortmann e seu amigo gremista/colorado Alviíssimo Bozó (RE) |
No dia 12 de dezembro esteve de visita à Quaraí o conterrâneo e hoje auxiliar técnico de Felipão no Grêmio, Ivo Wortmann. Na ocasião o ilustre quaraiense deu uma entrevista para a Resenha Esportiva na Fronteira.
RE - O que o trouxe a Quaraí?
Ivo Wortmann - Eu adoro vir a Quaraí, eu aproveito para visitar a minha irmã em Livramento, venho ver o Bido e os amigos aqui em Quaraí, e agradecer as coisas que realmente me tocaram, que foi receber a homenagem da Escolinha do Bozó, com o meu nome em um torneio no ano passado, isso foi uma coisa que realmente mexeu um pouco com o sentimento, com o coração e que me deixou muito contente e rever amigos e família é gratificante
RE - Como esta o trabalho na nova fase do Grêmio?
Ivo Wortmann - É um grande desafio, a responsabilidade é grande e a busca por títulos que o clube não conquista a muitos anos é o objetivo principal em 2015, tudo começa pelo gauchão onde o Inter ganhou nos últimos 4 anos, o time vai encarar com muita seriedade apesar dos problemas financeiros que o clube enfrenta no momento. De imediato será contratado um meia armador que o time não tem e de resto será o aproveitamento da base que foi o que muito marcou a primeira passagem do Luis Felipe no clube. Na época das grandes conquista o Felipe tirou da base jogadores importantes como Roger, Arilson, Carlos Miguel, então vai haver uma tentativa de se ajustar a essa dificuldade financeira do Grêmio, explorando a base do clube para recuperar a hegemonia do Gauchão.
RE - No caso dos atacantes, agora tendo dois centro avantes de oficio, o clube com problemas financeiros vai ter condições de manter Barcos e Moreno?
Ivo Wortmann - Não tem condições de ficar os dois juntos, até porque eles tem característica mais ou menos semelhantes, são jogadores de área, e seria um desperdício o Grêmio com problemas financeiros manter dois jogadores desse nível com os seus altos salários, então quando o Cruzeiro desistiu de ficar com o Moreno e a ideia do Grêmio era fazer uma troca entre os clubes, decidiu-se negociar o jogador. O Moreno tem parte de seu vinculo com o Shakhtar Donetsk, o Palmeiras tem 15% e a tendência é que ele poderia ir para o clube paulista. Agora se de repente surja alguma proposta pelo Barcos, ele poderia ficar, em minha opinião pessoal, eu acho que os dois jogadores pelo que ganham e pela qualidade que tem, dos dois só jogaria um, acho muito difícil os dois permanecerem no clube.
RE - Quantos as laterais, depois da saída de Pará e Zé Roberto, como será a reposição?
Ivo Wortmann - Nós vamos tentar resolver isso, vou começar pelo lado direito, temos o argentino Matias Rodriguez que ainda não deslanchou, teve oportunidades mas de repente começando o ano como titular ele possa aproveitar dando uma resposta positiva, ainda tem a opção de usar o Ramiro como lateral direito, posição que ele desempenhou quando estava no Juventude de Caxias.Na lateral esquerda será dada a oportunidade para Marcelo, lateral da sub-20.
RE - Na base do Grêmio tem o goleiro quaraiense Matheus que já andou treinando na pré-temporada com o plantel principal, qual a possibilidade do aproveitamento no Profissional?
Ivo Wortmann - Nós fizemos muitos jogos com a base, para ter um conhecimento maior que venha a possibilitar um aproveitamento desses jogadores, o Matheus treinou uma ou duas vezes contra o profissional e eu fui me dar conta de que ele era de Quaraí depois que eu observei as fichas com fotografias daqueles jogadores que viriam para o treinamento e estava a dele, e eu disse, mas esse goleiro é de Quaraí e aí me mostraram. Ele em vez de me falar de onde era, muito humilde ficou quieto, eu soube nesse dia que tinha um conterrâneo na base.
RE - Tens um conhecimento sobre como é feito o trabalho na base aqui na cidade?
Ivo Wortmann - Tenho sim, já tive a oportunidade de vir e recebi aqui uma homenagem do Bozó, que honestamente acho que nem merecia, é um trabalho que os empresários e o pessoal de Quaraí, que tem condições de ajudar, deveriam ter uma participação mais ativa, porque tem aqueles meninos que tem potencial, a família até tem condições mas também tem muitos meninos que seria importante que houvesse um investimento do pessoal da cidade para fortalecer o trabalho qualificado que tem nas escolinhas. Eu me senti muito honrado quando no ano passado eu fui homenageado em um torneio infantil e pude assistir o trabalho que é realizado aqui em minha cidade.
RE - O que achas da importância dos clubes formadores do interior do nosso estado?
Ivo Wortmann - Para ter uma ideia o quanto é importante isso ai, até uns anos atrás, eu até falei anteriormente sobre o trabalho do Felipe com a base, Roger, Carlos Miguel, Arilson, Emerson, o Emerson inclusive veio comigo para os juniores do Grêmio, com 15 anos, ele era juvenil e eu o coloquei nos juniores, estou te citando quatro, era uma época que os jogadores da base dos clubes vinham do interior do Rio Grande do Sul, hoje você vai na base do Grêmio por exemplo, e tem um percentual de jogadores gaúchos muito pequeno, então estão trazendo agora jogadores do norte, do nordeste, desprezando nossos valores quando o futebol gaúcho se destacou por revelar grandes jogadores, e isso ai ficou meio esquecido, resolveram investir em jogadores do centro do pais, como exemplo eu cito o Luan, o Luan veio para o Grêmio de contrapeso de São Paulo, o clube queria outro jogador que esta no plantel e não aconteceu, de repente o Luan estourou e os outros dois não deslancharam, o volante Guilherme e o meia Cairo que estão na base. Agora eu te pergunto, como é que uma base de clube grande pode ter um percentual de 10 a 20% de jogadores gaúchos, quando os grandes títulos da dupla grenal tinham jogadores daqui, formados aqui, nesse tipo de atividade que é muito bem feito em Quaraí. Atualmente a situação é inversa, antes os clubes do centro, vinham no sul e pagavam muito para levar nossas promessas, hoje elas estão indo para o centro sem a gente saber, clubes como São Paulo, Flamengo, montam escolinhas no interior e colocam pessoas para fazer o recrutamento, e nós estamos perdendo, acho que tem que voltar as origens e valorizar o trabalho que é feito aqui no estado.
RE - Deveria existir uma parceria com grandes clubes para uma melhor estrutura das escolinhas da cidade?
Ivo Wortmann - Poderia sugerir, mas tem o problemas da rivalidade, de repente se aproximar do Grêmio ou do Inter solicitar a ajuda desses clubes. Eu acho que para evitar essa rivalidade, por exemplo, de um pai gremista não levar o menino para uma escolinha que tem um intercambio com o Inter e vice-versa, isso existe muito, então seria importante que os empresários, os fazendeiros, esse pessoal de condições aqui de Quaraí se mobilizasse para desenvolver esse trabalho, fizesse uma parceria, desse um ajuda, um patrocínio, para que esse trabalho fosse realizado com melhores condições.
É por isso que o trabalho que é feito aqui tem um valor muito grande, porque é feito com muita dedicação, com muito amor, mas com muita dificuldade, que poderia ser minimizado se o pessoal da cidade ajudasse.
RE - Como os clubes descobrem precocemente os meninos que poderão estourar no futebol?
Ivo Wortmann - Hoje é assim, as coisas modernas tem um limite, então antigamente se fazia o recrutamento, ou seja, se você coloca um jogador em um clube e esse jogador permanecesse lhe seria oferecido um valor x, isso é um recrutamento. O clube recorre a pessoas que fazem o trabalho de base e que esta te colocando uma mercadoria, um jogador de futuro, mas que tem que ter uma compensação. Atualmente essas pessoas do futebol criaram um termo novo que se chama “captação”, nessa captação não existe limite de idade, cito o caso do Luan que com 16, 17 anos já joga no profissional do Grêmio, só que ai eles passam a ser parceiros de empresários e não do clube, então virou um comércio, e na minha opinião isso tem que acabar no futebol. Se existe o treinador da base do clube que recebe salário, os treinadores das escolinhas, eu cito como exemplo o Bozó entre outros aqui de Quaraí que fazem esse trabalho e também o recrutamento, eles teriam que ter uma gratificação por ter levado o menino que vai render muito dinheiro para o clube no futuro, principalmente hoje que o menino vai com 16, 17, 18 anos para a Europa até pela dificuldade que o futebol brasileiro vive, os clubes estão falidos, as federações ricas não repassam dinheiro para os clubes e os empresários mais ricos ainda.
RE - A parceria do clube com a Escola para a descoberta de futuros craques como é feito na Alemanha, seria viável no Brasil?
Ivo Wortmann - As coisas não acontecem de graça, o que aconteceu com a Alemanha, a federação criou núcleos em todo país, para a formação de jovens, e esses jovens tem parceria com as escolas e com os clubes, esse trabalho foi desenvolvido em 10 anos. Na copa em seu país, a Seleção da Alemanha ficou em terceiro, o Brasil em 2014 ficou em quarto, só que na Alemanha ficar em terceiro na copa não é tragédia ao contrario do Brasil que ficar em terceiro ou quarto vira tragédia. Então, o que é que a CBF faz nesse sentido, nada, o que é que a F.G.F faz em relação a esse trabalho, nada. Esse trabalho feito no RS e no Brasil é executado por abnegados, que é o caso do Bozó aqui em nossa cidade, o trabalho sobrevive pela dedicação, pelo amor, a satisfação, a gana e vibração que é realizado nas escolinhas, em que essas entidades poderiam ajudar e nem se interessam. Então eu vou te dar uma visão pessimista, minha visão, o Brasil por 20 anos não ganhará uma Copa do Mundo. Hoje os clubes com esse negócio de captação deixaram de fazer uma coisa importante que é a formação de jogador, se você olhar o Grêmio, qual foi o último bom jogador que o clube formou o Fernando e atualmente o Marcelo Grohe, antes teve o Anderson, o Ronaldinho. Agora tem a tal de captação, o jogador vem de lá porquê? Porque existe o interesse de quantidade de gente, de gente beneficiada financeiramente nisso aí, e o empresário milionário.
RE - Para finalizar, uma mensagem para os nossos jovens.
Ivo Wortmann - A mensagem que eu deixo tem muito a ver com o trabalho que o Bozó faz aqui, queira ou não queira, o menino em situação de risco e dependendo do lugar onde vive, tem no esporte o afastamento de alguns vícios, então esse trabalho passa a ser mais valorizado. O que eu peço é que essa juventude pratique o esporte e que o empresariado quaraiense ajude e fortaleça a estrutura desse trabalho.
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