Sonho do jovem
atleta de 13 anos era cultivado desde a morte do pai, também vítima de acidente
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| Josué Drewanz ficou 10 dias internado na UTI do HPS, mas não resistiu Foto: arquivo pessoal/reprodução |
Carlos
Guilherme Ferreira - zerohora.com.br - 26/10/2013
Os olhos, as mãos e a voz de Vanusa
Drewanz dimensionam uma dor encravada no coração. Transmitem o sofrimento de
uma mãe privada, para sempre, da convivência com o filho único. Vanusa perdeu
Josué, 13 anos, após 10 dias de luta pela vida em um leito da UTI pediátrica do
Hospital de Pronto Socorro (HPS), em Porto Alegre. Promissor atacante das
categorias de base do Grêmio, o menino sofreu traumatismo craniano ao ser
atropelado na Avenida da Azenha, na noite do dia 9. Morreria no dia 18, à
tarde, entre beijos e afagos de uma mãe em transe.
— Estou consciente de que perdi tudo
o que eu tenho — lamenta.
Era o que restava de uma família dilacerada.
Neste domingo, completam-se quatro anos do acidente que vitimou o pai de Josué,
o caminhoneiro Daniel — fonte de inspiração do garoto. Josué e Vanusa estavam
na boleia quando o caminhão se chocou contra um barranco, na Serra.
Daniel foi enterrado em Mangueirinha,
no interior de Paraíso do Sul, no centro do Estado. Ao lado do túmulo agora há
a lápide de Josué, sepultado com fardamento completo do Grêmio. Pedido de
Vanusa, como forma de homenagem a um gremista fanático. Ela entregou à
namoradinha do filho, Pyetra, uma camiseta tricolor usada por ele em um jogo
pelo Grêmio. Pyetra se orgulha ao vestir a peça, número 18 e nome de Josué às
costas. Sorri enquanto observa uma parede repleta de medalhas, na casa do
menino.
E ele sempre quis ser jogador. Mais
ainda, conta a mãe, após a morte do pai. Daniel incomodava como atacante nos
amadores de Paraíso, a ponto de um radialista chamá-lo de "Foguete".
E dava trabalho marcá-lo, atesta o
amigo Lucas Dezan, 13 anos, volante gremista. Ele e o atacante Guilherme
Miranda, o Goiano, relembram das correntes de orações por Josué no vestiário do
técnico César Lopes. O treinador o define como um menino solidário, obediente e
focado nos objetivos — neste caso, virar profissional.
Foi Lopes quem o descobriu no
Interior, ao lado do ex-zagueiro Ancheta. Josué só acabou visto, porém, porque
a mãe abraçou seu sonho. Trocou a lavoura de fumo em Paraíso para morar em
Agudo, onde o filho poderia treinar à tarde em um clube chamado Avenida.
Destacou-se a ponto de receber convite para teste no Grêmio, recusado por
Vanusa. Era final de 2012. Em março de 2013, nova investida. A família
balançou, o menino bateu pé. Valia arriscar. Vanusa ponderou, à época:
— Se ele está feliz e vai fazer o que
gosta, por que trancar um sonho?
Um grupo de empresários bancava o
aluguel e a conta de luz. Este tipo de aproximação é comum e ajuda os agentes
a, no futuro, conquistar uma procuração dos pais para gerir a carreira do
jogador. No caso de Josué, também trouxe novas amizades. Não raro, outros
meninos empresariados ficavam por alguns dias nos beliches do apartamento.
Jogavam videogame — Josué era fã de Cristiano Ronaldo e de Fred, atacante da
Seleção.
No dia do acidente, o guri chegou
mais cedo em casa, onde pedia leite com nescau e pudim de caneca para a mãe.
Calçava tênis novos e brincava no videogame antes de ter a ideia de procurar um
lugar para ver Grêmio x Criciúma. Ele e mais quatro guris saíram. A mãe ficou
para trás, iria em seguida. Nem deu tempo de sair, pois um dos meninos voltou
correndo e anunciou:
— Tia, o Josué foi atropelado.
Deitado no asfalto, Josué tentou se
levantar. Só saiu dali de ambulância. No HPS, a mãe logo ouviu a gravidade do
quadro. Está consciente de que o melhor foi feito para salvar o filho. Em coma
induzido, fragilizou-se ao longo dos dias e sofreu uma parada cardíaca. Vanusa
foi alertada de que o filho dificilmente resistiria a outro infarto. Pediu,
então, para ficar ao lado dele. Assim viu morrer um menino que, nas orações,
pedia a Deus ajuda para virar jogador. Sonhava com a chance de dar à mãe uma
vida melhor.
Já recomposta de um relato no qual as
lágrimas escorrem pelo rosto, ela encontra forças para algum conforto:
— Ele viveu cada dia como se fosse o
último.



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