RE, 11/07/2014
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| O cinquentenário E.C. Bataclã em seu passado e presente (Divulgação) |
Na segunda-feira 07 de julho esteve comemorando aniversário o único clube social em atividades na cidade de Quaraí.
Fundado em 07/07/1963, o "Galo da Rua da Usina" como é conhecido o Esporte Clube Bataclã, comemorou seus 51 anos de existência. Junto ao G.E. Universal é o único em atividade dos grandes clubes que fizeram a glória do futebol de campo da cidade.
Eu vivi parte da história deste clube, assisti a jogos de um dos melhores times que o clube teve em sua existência após o titulo de 1969, quando o falecido José Barreto trouxe jogadores de Uruguaiana para reforçar o plantel e juntos aos bons jogadores como Manchado, Braggio, Assunção... fizeram do Bata um time com chances de título na época.
A seguir eu coloco um relato do meu amigo de infância Iburã Mathias que hoje mora no Rio de Janeiro e também viveu muito a glória do Bataclã junto a seu falecido pai que por muito tempo foi presidente deste clube de brio e batalhador, um verdadeiro "Fênix".
Seu relato começa assim:
O aniversariante do meu tempo...
Cinquenta e um anos.
Foi exatamente em sete de julho de mil novecentos e sessenta e três que nasceu ou foi fundado o Esporte Clube Bataclã. Um clube de bairro, de local, que na ocasião se propunha viabilizar aos moradores da região e adjacências, um espaço onde os desportistas pudessem confraternizar e se fazer representativo na modalidade.
Dizia-se que se tratava de um clube dos negros ou pretos, sem o silogismo racista mas de simbologia lógica de diferenças, todos irmãos e com os coirmãos, Comercial, Caixeral e Cruzeiro.
A localização nunca foi uma diferença, afinal, estabelecido nas adjacências da Usina, símbolo de grandeza daquela época. A entidade, por assim se chamar o Bataclã ou o Bata, encantou seus amigos, sócios, afilhados e simpatizantes por não ser um clube de elite, mas um espaço destinado aos menos afortunados de simpatia reinante, aconchegante.
O senhor Bataclã, deveu suas glórias a um time de aficionados defensores pelo futebol e pela necessidade de ter no local um espaço de convívio familiar e por assim dizer também social. Ali na antiga Rua Quaraí hoje Bel Francisco da Cunha Correa, sempre esteve, senhor do local, e onde transcorreram nos fins de semana centenas de bailes sociais, chás dançantes local de encontro de vários casais formando famílias que hoje se reformularam.
Quantos carnavais, blocos carnavalescos, arrastões momesticos, escolas de samba (Cadetes) se formaram no convício do Velho Bata. Seus sócios, amigos e frequentadores tinham a disposição uma quadra esportiva considerada a época do seu lançamento como a melhor da cidade.
Quem não se lembra dos campeonatos de futebol de salão que encantaram a cidade e a nossa vizinha Artigas? ... Dos Salões de fim de tarde onde para dispor de uma bola propícia ao esporte, era preciso ter a paciência e esperar a boa vontade de quem era o seu dono. Muitos viveram estes dilemas.
Do clube, nasceram várias e remodeladas equipes salonistas, o 13 de maio (João Carlos Barreto), o Millionarios (Pazzinis), a garotado do Olimpico (Paulo, Lino, Hermes, David...), dentre outros. Aos sócios e nem sempre só com os sócios praticava-se o Ping Pong e o Jogo da Vida na mesa de Bilhar ou de Cem em intermináveis partidas que muitas vezes começavam pela manhã e lá se ia madrugada à dentro. Craques neste joguinho o Paulino, o Moloco, Piringa, Seu Nei....
No futebol o Bata enfrentou seus pares de época, o Brasil, o Quarai e o Universal sagrando-se Campeão em 1969 quando se pensava em modernizar o Aloísio Falcão.
O time jogava por amor a camisa. Para relembrar, o treino sempre pelo mesmo motivo acontecia no Campo de Várzea entre o Rio Quarai e o Eucaliptal, este que já não existe mais, ao som de um interminável Jamelão interpretando Lupicínio reproduzido em uma espécie de Corneta que dá sede podia se ouvir no campo de treino; nas cheias do Rio Quarai, a bola ao cair pela lateral seguia o curso do Rio e nem sempre existia uma sobressalente. Se recordar é viver o Velho Bata quando não ia muito bem das pernas, socorria-se dos seus fundadores que partiam com o famoso Livro de Ouro junto ao Comercio local, em busca de recursos muitas vezes necessários as despesas mais comezinhas (água, luz...).
Época de aniversário do Clube, muito comum à visitação de outras agremiações de Uruguaiana, do Alegrete, brindadas por um caprichoso churrasco de chão sob a batuta do inesquecível Clemente.
Muitas histórias para contar em pouco espaço de tempo. Melhor é trazer à lembrança alguns dos baluartes que deram vida ao Velho Bata e pelo Clube fizeram de tudo um pouco.
Longe, muito longe, esquecer-se de um José Barreto, João Carlos Barreto, Saul Barreto e depois o João Batista, do Wilmar Mathias, o Galo, do Ventura, do Seu Nei (...passa a bola seu Nei), do Seu Aristides, do Israel Damião, do Seu Bertolli, dos Pazzinis, da Nonga e seu inesquecível Guaraná, do Gélbio Mathias, do Titio, do Moacir e do Zeca, do Wilson Mirailh, do seu Walter, do Conterrâneo, do Torresmo, do Eurico, do Canela, do Camilinho, do Piringa, do Joelci, do Gilberto, do Gigo, do Vaz, do Parolli, do Pagui, do Nilson Pazzini, do Bolacha, do Dedão, do Tita, do Sem Coco, do Caroço, do Camilinho do Sax, do Freitas, do Raul, do Seu Aparício, do Paulo Bordão, do Zequinha, do Aldo, dos Madril, etc., e não esquecer das baluartes femininas Dona Margarida e Dona Maria das Cadochas, da Maria do seu Lilica, da Reasilva, da Vitalina (as três, a Mathias, a Barreto e a Parolli), da Preta, da Neuma, da Naire, das meninas lá do José de Abreu (Arranca Toco) (irmãs do Sarará), da Gilca, das Mendes Fernandes, etc. etc.
Esqueci-me de alguém? Claro que sim. Mas fica a lembrança de todos que fizeram do Velho Bata um espaço de amizade, companheirismo, alegria e diversão para uma geração passada: a minha. Quiçá possamos nos tempos atuais encontrar pessoas aficionadas e determinadas e levantar o Velho Bata, fazendo com que a alegria de antes possa novamente ser sentida em nome da nossa coletividade.
Hoje não mais um clube de negros ou pretos, mas um clube de amigos, vizinhos e representantes da digna classe da baixada da Usina. Um baile Social, um Chá Dançante, um Grito de Carnaval, um Ensaio dos Cadetes, da Escola de Samba Mirim dos Meninos da Mangueira, um Torneio de Futebol de Salão... Não é querer muito. É relembrar um passado de alegrias. Parabéns ao Esporte Clube Bataclã. Salve, 07 de julho.
Iburã Mathias, 07.07.2014 - Rio de Janeiro, Brasil

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